A comunicação entre as equipes de inovação e o setor financeiro é um dos maiores desafios para avançar a inovação nas empresas. Os diretores financeiros (CFOs) focam em previsões de longo prazo, EBITDA e indicadores centrados em finanças. Já a inovação envolve incertezas e, muitas vezes, não garante retorno imediato.
Então, como preencher essa lacuna? Como lidar com as variáveis financeiras da inovação e conquistar apoio da liderança? E, além disso, como assegurar o orçamento necessário para os projetos?
Quebrando a mentalidade de “Nós contra Eles”
Geralmente, existe antagonismo entre líderes de inovação e equipes financeiras. Os objetivos e abordagens desses grupos são muito diferentes. Para líderes de inovação, o foco está na geração de novas ideias e soluções. Eles sabem que muitas iniciativas podem falhar. O horizonte é curto e prioriza as próximas etapas do projeto.
Por outro lado, os profissionais de finanças precisam garantir o futuro da empresa. Eles são naturalmente avessos ao risco. A ideia de financiar projetos com retorno incerto causa desconforto.
Esse desalinhamento dificulta conversas produtivas entre inovação e finanças. O setor financeiro busca respostas claras sobre crescimento e sustentabilidade da empresa. Os líderes de inovação precisam oferecer essas respostas. O problema surge quando essas perguntas exigem garantias impossíveis, criando expectativas irreais e um processo disfuncional.
Líderes de Inovação Responsáveis Assumem a Responsabilidade
Os líderes de inovação devem adotar uma postura responsável. Muitas vezes, eles são vistos como focados apenas no novo, sem compromisso com resultados. A abordagem de “falhar rápido” pode soar como ruptura das regras que protegem a empresa.
No entanto, quando atuam com responsabilidade, esses líderes mostram que buscam reduzir riscos. Eles utilizam experimentos e ajustam o curso do projeto conforme aprendizados. Isso demonstra ao setor financeiro que eles também se importam com resultados do negócio e com o uso eficiente do investimento.
Inovar Melhor, Não Apenas Investir Mais
O foco não deve ser apenas ampliar o investimento em inovação. O objetivo é inovar de forma mais inteligente. Cada Real investido precisa gerar valor para o negócio. Isso ocorre quando a estratégia de inovação está alinhada à estratégia corporativa.
Projetos conectados aos objetivos estratégicos tornam o uso dos recursos mais eficiente. Eles também entregam retornos mais previsíveis e relevantes. Assim, o setor financeiro passa a enxergar valor real em cada iniciativa.
Enquadrando o Risco de Forma Positiva
Líderes de inovação e financeiros querem a mesma coisa: o sucesso da empresa. Porém, enquanto os CFOs veem o risco como o perigo de não cumprir compromissos financeiros, os líderes de inovação se concentram nas oportunidades e no que pode ser ganho se suas ideias funcionarem. A chave aqui é os líderes de inovação conseguirem comunicar ao setor financeiro os benefícios potenciais de suas ideias, solicitando os recursos necessários para testá-las.
No entanto, inovar melhor significa ser mais seletivo nas iniciativas, garantindo que cada projeto não só traga retorno, mas que seu risco seja mensurável e gerenciável. Ao apresentar os projetos de inovação, é importante destacar que eles estão alinhados com a estratégia corporativa, e que, se bem-sucedidos, agregarão valor tanto em termos de crescimento quanto em melhorias na competitividade da empresa.
Mensurando o Progresso de Forma Clara
Uma maneira eficaz de aprimorar a comunicação entre inovação e finanças é por meio de métricas claras e relevantes para o contexto financeiro da empresa. Essas métricas devem ser apresentadas de forma que façam sentido para o time financeiro. Por exemplo, as equipes de inovação podem expressar seus resultados em faixas de possíveis cenários, deixando claro o nível de incerteza envolvido. Isso permite que as discussões foquem em como esses riscos foram reduzidos ao longo do projeto.
Além disso, é fundamental que as métricas demonstrem como o projeto de inovação contribui diretamente para os objetivos estratégicos da empresa. Dessa forma, facilita-se a justificativa para a alocação de recursos, gerando maior confiança do setor financeiro no impacto dos investimentos realizados.
Incentivos da Lei do Bem
A Lei do Bem é um dos mecanismos mais eficientes para as empresas que buscam reduzir custos ao investir em inovação. Por meio de incentivos fiscais, as empresas que optam pelo regime de lucro real podem deduzir até 100% dos dispêndios em atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) da base de cálculo do Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Esse incentivo pode ser um diferencial significativo para justificar financeiramente os investimentos em inovação perante o setor financeiro.
Além das deduções, a Lei do Bem oferece outros benefícios, como a depreciação acelerada de máquinas e equipamentos, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a isenção de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) em remessas ao exterior para o pagamento de registro de marcas, patentes e cultivares. Portanto, apresentar os ganhos fiscais possíveis através do uso da Lei do Bem pode ajudar a reduzir a percepção de risco financeiro do projeto, tornando-o mais atrativo para o departamento financeiro.
Financiamento à Inovação: Reembolsável, Subvenção e Parcerias
Além dos incentivos fiscais, outra forma de viabilizar projetos de inovação é por meio de financiamentos e parcerias estratégicas. Existem diversas modalidades de fomento à inovação no Brasil, como linhas de crédito reembolsáveis e subvenções econômicas.
Os financiamentos reembolsáveis, como os oferecidos pela Finep e BNDES, permitem às empresas acessarem recursos com condições facilitadas para implementar seus projetos. Esses financiamentos podem incluir prazos longos e taxas de juros abaixo do mercado, o que é fundamental para projetos de maior risco e retorno a médio/longo prazo. Exemplos de itens financiáveis incluem desde P&D interno, aquisição de software, até a introdução de inovações no mercado.
Já a subvenção econômica, por outro lado, é uma modalidade em que o governo financia parte do projeto sem a necessidade de reembolso. Programas como os oferecidos pela Embrapii, FINEP e outras agências públicas são excelentes opções para reduzir os custos iniciais de inovação, alavancar a competitividade e impulsionar a inovação tecnológica.
Além disso, é possível viabilizar inovações por meio de parcerias com Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs), universidades e startups. Essas colaborações ajudam a diluir os riscos e a compartilhar o conhecimento, possibilitando que a empresa tenha acesso a novas tecnologias e expertise, o que facilita o processo de inovação com menores custos. Com um planejamento claro e o apoio do setor financeiro, essas parcerias podem trazer grandes resultados para o negócio, impulsionando a capacidade de inovação e a competitividade no mercado.
De Conflito com as Finanças para Um Sucesso Empresarial
Um exemplo prático pode ser de uma empresa do setor de agronegócios que estava desenvolvendo uma nova tecnologia de sensores para otimizar o uso de água e fertilizantes em plantações. No início, o projeto foi recebido com cautela pelo departamento financeiro, que via o alto investimento inicial e o retorno incerto como um grande risco.
No entanto, ao alinhar a inovação com os objetivos estratégicos da empresa, ficou claro que a tecnologia poderia não apenas reduzir custos operacionais, mas também aumentar a competitividade no mercado global, onde práticas agrícolas sustentáveis estavam se tornando cada vez mais valorizadas. Ao mostrar como o projeto estava em consonância com a estratégia de sustentabilidade da empresa e apresentando métricas claras de retorno sobre o investimento, o time de inovação conseguiu o apoio financeiro necessário.
A chave para o sucesso foi demonstrar que cada Real investido seria utilizado de forma eficiente, não apenas para inovar, mas para gerar valor estratégico e sustentável para a empresa. Esse exemplo reforça a importância de inovar melhor, alinhando a inovação à estratégia corporativa.
Tornando a Inovação Relevante para o Negócio
É essencial que os líderes de inovação comecem perguntando à liderança por que a função de inovação foi criada e quais são as expectativas para o futuro. Isso ajudará as equipes a alinharem suas atividades às expectativas de longo prazo, permitindo que comuniquem melhor suas necessidades ao CFO e à empresa como um todo.
A inovação, apesar de seus riscos e incertezas, pode ser a chave para o crescimento futuro da empresa. No entanto, para garantir o apoio financeiro, é essencial que os líderes de inovação se comuniquem de forma clara e responsável, buscando pontos em comum com o setor financeiro e mostrando o valor potencial de seus projetos. Além disso, explorar os incentivos da Lei do Bem e buscar financiamentos e parcerias estratégicas são caminhos fundamentais para viabilizar os projetos de inovação com o apoio necessário. Mais do que investir cada vez mais, é fundamental inovar melhor, ou seja, fazer com que cada Real investido traga resultados concretos, alinhados à estratégia corporativa.







